DO DESEJO

meu desejo não é apenas desejo
mais que isso: é brusco, é instinto
quase ninguém o sabe, pois eu minto
e deita-se sobre quase tudo que vejo


satisfazê-lo dói-me tudo por dentro
louco, insaciável, nunca se me acalma
dilacera-me a pele, rasga-me a alma
e põe-se a corroer-me ainda mais no centro

entrego-me inglória, já não luto contra isso
e por essa entrega fútil pago um alto preço
de uma angústia que sei que não mereço
de um saber inútil que permanece omisso

mascaro com poesia e etéreos risos
essa razão do meu ser e do não-ser
meu desejo é destes desejos me desfazer
E traçar então desejos mais precisos

Um comentário:

Marco Bogado disse...

esta poesia, por exemplo, é fantástica!